sábado, 19 de novembro de 2011

Você se lembra?

Você se lembra da primeira vez que nós nos vimos? De como você me olhou e fez careta de "argh"? Naquele momento eu te achei o menino mais porco da face da terra. Não que todos os meninos da face da terra não fossem porcos. Aliás, naquela época todos os meninos da face de todos os planetas, e estrelas, e meteoros, eram porcos. Mas quer saber? Depois daquele chiclete dado com a cara mais tô-te-dando-porque-minha-mãe-mandou, você até que ficou um porco bonitinho. Não que você tenha deixado de ser nojento, mas pelo menos era um nojento não-tão-nojento. Confesso que a ideia de ter um menino como melhor amigo nunca me passou pela cabeça. Aliás, ter um menino como qualquer coisa sem ser primo nunca me passou pela cabeça. Mas a minha cabeça nunca foi das melhores e lá estávamos nós, apostando corrida de subida de árvore. Você se lembra?
Se lembra da vez que nós comemos tanta pipoca que não conseguimos ir no aniversário da Sara? E de quando nós brigamos e ficamos uma semana sem se olhar na cara porque você tinha dado duas chupadas a mais na bala que nós dividimos (sim, foi você, e não me venha dizendo que fui eu porque nós brigaremos de novo)? Você se lembra de quando você roubou o meu diário e eu fiquei com tanta raiva que furei o pneu da sua bicicleta, e lá fomos nós de novo a mais uma semana sem se olhar? E da vez que nós batemos naqueles meninos que ficaram gritando "olha os namoradinhos" pra gente? Namoradinhos! Puf! Bobões!
E ah, lembra de quando nós descobrimos o que era sexo e juramos, de dedinho e tudo, que jamais faríamos algo tão nojento e asqueroso (nós nem sabíamos o que era asqueroso na época, mas falávamos sempre que se encaixava na frase)? Você se lembra do beijo na bochecha que me deu na quinta série e de como tudo, absolutamente tudo, mudou? Se lembra dos bilhetes, dar cartinhas e das flores que pegava no canteiro da dona Marta todos os dias pra me dar? Se lembra de quando nós pegamos dois anéis daqueles que vinham em chiclete e "oficializamos" nosso relacionamento? Você se lembra de quando nós decidimos beijar, só pra ver como era, e de como ficamos olhando um pra cara do outro por vinte minutos? Se lembra de quando nós tentamos fugir e no meio do caminho decidimos voltar, nos demos as mãos e fomos andando tranquilamente até a esquina das nossas casas? E de quando tentou me ensinar a soltar pipa e eu acabei com a linha enroscada no pescoço? Você se lembra de quando eu "virei moça" (argh, não acredito que mamãe usou mesmo essa expressão) e resolvi que te odiava? Você se lembra de quando me pediu em namoro e da cara que meu pai fez? Se lembra de quando nos formamos e estudamos feito condenados, até conseguirmos ir pra mesma faculdade? Se lembra do abraço que demos quando vimos que conseguimos? Se lembra de quando nos casamos? De como você tropeçou quando foi entrar em casa me carregando no colo e eu acabei com a cabeça na porta e um galo enorme? Se lembra da vez que pintamos a casa? De como você acabou conseguindo me pintar inteira? Se lembra de como me chamava de querida, docinho, anjo, diamante e flor, só porque eu odiava? E, por Deus, você se lembra que eu te amo? Você se lembra que me ama?

Que diabo! Diga que se lembra.
Por favor. Diga que se lembra.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Hoje é o seu dia, que dia mais feliz.

Meu conceito de festa de aniversário: comida de graça. Não me interessa se o aniversariante é gordo, magro, rico, pobre, branco, azul, alto, baixo ou um ET. O que realmente me interessa é a resposta do meu “o que vai ter pra comer?” e só. É toda uma vida de “vamos sair?” “ah, sei não...” “vai ter comida” “que horas você passa pra me pegar?”. Quando a festa é sua você gasta dinheiro e trabalha pros outros encherem a pança e saírem reclamando de bucho cheio. “Vestido de fulana tinha um furinho aqui e uma manchinha acolá”, “Olha só como beltrano engordou, que bujão!” e todos  esses comentários não-tenho-igual-então-falo-mal. O gordo ta comendo feito o Rabicó no natal e ta reclamando da comida! Por isso fazer festa é furada. Bom mesmo é ir à dos outros.
Festa de criança só seria melhor se não tivesse criança, porque o resto é perfeito. O resto = comida.  Você mal chega e já estão te enfiando salgadinho goela abaixo. Ôh trem bão dimais da conta, sô.  Dá até pra ignorar os gritos dos piás e os “dá licença tia (T-I-A) enquanto passam empurrando sua cadeira e te fazendo quase meter a fuça no chão.
Festa de adulto é broxante quando servem aquela galinhada sem galinha. Galinhada é aquela história de não-tenho-dinheiro-pra-dar-comida-boa-e-fiz-isso-porque-é-barato. Pô, gente. Que miséria. Cadê a carne assada? Não força a amizade não, vai.
Outra coisa que força a amizade é esse assunto de 15 anos e toda essa coisa de “virar moça”. Nunca entendi. E se eu quiser virar moça com 16? E se eu não quiser virar moça? O que tem de especial no número 15? E se eu preferir 13? Não faz sentido. Me irrita esses aniversários chiquéééééérrimos onde o pessoal chora como se a guria tivesse descoberto a cura da AIDS. Você tá lá, esperando a comida a comida a comida e tem todo um mimimi olha-só-a-fulana-fez-15-anos-como-nós-a-amamos e homenagens e choro e abraços e fungadas. Só uma coisa: EU NÃO ME IMPORTO. EU QUERO COMER. Pior que aniversario de 15 anos é aniversario de 15 anos de pobre. Deixa eu avisar uma coisa pra vocês: VOCÊS SÃO POBRES. Isso aí, vocês não tem dinheiro pra fazer festa chique só porque a filhinha ta fazendo 15 anos. Mas nããããão, negada vai lá e gasta o olho da fuça pra dar “uma noite de princesa” pra guria. Depois não tem dinheiro nem pra pegar o ônibus e ta com dívida até no cu. Dá a impressão de que ao fazer 15 anos a guria vira uma princesa e vai morar na Disney. Mas surpresa: não muda nada. No outro dia ela ta lá esfregando o chão do banheiro, com o short manchado de Quiboa. Mas ta, não vou julgar. Deixa a guria ter seus 15 minutos de fama. Mas tirem o pé da minha janta! Eu fico o dia inteiro sem comer, guardando barriga pra comer até morrer e nego me enrola com homenagem. Homenagear meu estômago ninguém quer, né.
Falando em estômago...

“Ô MANHÊ, VOCÊ NÃO TINHA UMA SOBRINHA DO FILHO DO SEU PRIMO TERCEIRO QUE TÁ DE ANIVERSÁRIO? O QUE TEM PRA COMER LÁ?”