terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Um sorriso manchado de sangue.

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Estava sentada no parque, como sempre. Faço isso direto, saio sozinha, caminho, vou ao parque e observo. Saio da minha realidade e invado a realidade alheia. Observo como as pessoas agem, conversam, andam. Observo como se vestem e as caretas que fazem. Na maioria das vezes é tudo muito clichê, os mesmos atos, as mesmas conversas, os mesmos jeitos de andar, as mesmas roupas e as mesmas caretas. Mas naquele dia tinha algo a mais, especial, único. Percebi que não era a única sozinha no parque. Á poucos metros dali, avistei uma menina. Me assustei. Ela tinha dor no rosto. A dor, na maioria das vezes, deixa as pessoas feias. Mas com ela era diferente. Era como se, mesmo com dor, ela ficasse linda. Ela era linda, realmente linda. Do tipo que não passa maquiagem depois de acordar e continua linda. De início tive certeza que ela era bem mais velha que eu, mas ao olhar nos olhos dela, percebi que não, na verdade ela era alguns anos mais nova. Eles brilhavam. Eram os olhos de uma criança descobrindo que papai noel não existe. Eram a única coisa com vida nela. Seus olhos eram negros, mas não um negro comum. Tive a impressão de que se olhasse por muito tempo, eu me perderia dentro deles e enlouqueceria. Mas, se você está achando que acabou pro aqui, está muito enganado. Deixei a melhor parte por ultimo: o sorriso. Na verdade, não era um sorriso, não sei definir realmente o que era. Ao vê-lo, tive a certeza de que ela não sorria a muito tempo, talvez ela tenha perdido seu sorriso. Era um sorriso morto. Nesse momento, ela me viu. Quase caí pra trás quando aquele "sorriso morto" se transformou em um quase sorriso. Digo quase sorriso porque, ao sorrir, a dor em seu rosto aumentou. Ao sorrir, ela sangrou. Era um sorriso manchado de sangue. Parece que ela estava se esforçando muito pra tentar parecer normal. E o que mais me assustou foi o fato de eu ter sentido a dor. Foi como se o meu rosto também tivesse se rasgado em um quase sorriso. Pisquei, e ao fazê-lo, levei o maior choque da minha vida. Aqueles olhos eram meus. Aquela dor era minha. Aquele sorriso perdido e morto, era o meu sorriso. Eu não estava no parque, estava em casa. E não olhava uma menina. Olhava o espelho.

@twotwok_

7 comentários:

  1. Sim, eu me identifiquei, achei muito legal esse texto, parabéns.
    Beijos.

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  2. Sério, de tudo o que eu já li aqui, e olha que cada texto é mais incrível que o outro, esse foi o mais foda de todos. Muito lindo, @twotwok_, mais do que isso, perfeito. Parabéns

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  3. Simplesmente lindo.Até poderia comentar sobre como me senti ao ler esse texto,mas apetece-me dizer somente que achei lindo,muito lindo.
    Beijooos ;*

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