quinta-feira, 30 de junho de 2011

A estrela que brilhava amarelo.

Hoje eu olhei o céu. Olhei de verdade, com força. Pode-se até dizer que eu comi o céu com os olhos. As estrelas estavam magníficas. Não havia lua. Essa noite era a noite das estrelas. E parecia que elas haviam se preparado especialmente para ser olhadas por mim. Pareciam aquelas velinhas que ficam sorrindo pra você. Todas elas sorriam, com um ar de sabedoria. Elas diziam que ia ficar tudo bem. Mas, no meio de milhares de velhinhas, havia uma criança.
Uma estrela que brilhava mais que todas. E ela não brilhava branco, como as outras. Ela brilhava amarelo. E ela não dizia que ia ficar tudo bem, ela ria da minha cara, gargalhava, apontava o dedo. Ela não sumia quando eu a encarava, como as outras. Ela continuava a brilhar. Eu a olhei por muito tempo. As outras estrelas foram sumindo, e no fim só restaram algumas poucas. Como as migalhas do pão que você come deitada no sofá que ficam insistindo em continuar nas suas roupas. Dentre essas poucas estrelas, ela ainda era a que mais brilhava. Eu não conseguia parar de olhar, queria ver até quando ela ia ficar lá. Senti inveja dela. Ela nunca estaria sozinha, porque ao seu lado estava milhares e milhares de estrelas. E eu sozinha, olhando como ela brilhava e ria. Eu não tinha nenhuma estrela.
Ela começou a sumir e a aparecer, como que pra brincar com a minha cara. Sumia. Aparecia. Sumia. Aparecia. Sumia. Assim que eu acreditava que ela não surgiria mais no céu, ela aparecia novamente. Quando meu pescoço não aguentava mais de tanta dor -não se deve olhar estrelas por muito tempo, porque o pescoço realmente sai prejudicado-, parei de olhar . Passado alguns minutos, olhei. Ela continuava lá, firme e forte. Desisti de ver quanto tempo ela aguentaria, pois parecia que nunca iria embora. Dessa vez, fiquei muito tempo sem olhar, crente de que ela continuaria lá para sempre. Ela parecia grudada no céu. Mas, como que pra me ensinar a não subestima-la, ela desapareceu e não voltou mais. Agora, parando pra pensar, noto que ela continua lá e que sempre continuará. Fui eu quem desapareceu, quem desistiu, quem sumiu e parou de olhar. Eu quem não tive capacidade de acha-la novamente. Ela continua grudada no céu e nunca o abandonará. Está lá agora e continuará até depois de eu não conseguir mais lembrar-me dela. Mesmo quando não conseguir mais brilhar, ela continuará lá.
Mas estrelas não são pessoas. Não são velhinhas e nem crianças. Elas não sorriem pra você, não dizem que vai ficar tudo bem e muito menos riem e apontam pra você. Elas são só estrelas. E você e eu somos só pessoas, e pessoas não são como o céu e as estrelas, que ficam grudados para sempre. Pessoas se abandonam, se largam, se desgrudam.
A estrela que brilhava amarelo não era você. Naquele momento, você não estava pensando em mim, não estava me olhando e nem cuidando de mim. Você não ria e não apontava para mim. A estrela que brilhava amarelo é apenas mais uma no meio de tantas outras. Apenas mais uma migalha de pão.

Um comentário:

  1. Parabéns.Incrível,realmente incrível e verídico.Pessoas são só pessoas.E estrelas,apenas estrelas.

    ResponderExcluir