quarta-feira, 4 de julho de 2012

A mancha do tapete.

Já não sei onde mais colocar feridas. Não há lugar para guardá-las. Infelizmente, quando uma bate a sua porta, não aceita um "está lotado" como resposta. Ela entra e vai tirando o sapato (mas continua com as meias, para provar que está se sentindo em casa e não pensa em ir embora), deitando no sofá e colocando os pés em cima da mesa de centro. Não importa se o local já está infestado de outras feridas. Ela chega sem pedir licença, espalhando sangue pelo tapete que acabei de comprar e fica ali, me cutucando a noite inteira, impedindo-me de dormir. No início não me queixei, havia poucas e era fácil. Agora, mal consigo cuidar da metade. Comecei na típica inocência de iniciante, uma por vez, e agora me vejo com uma coleção monstruosa, para não dizer mais. Não coleciono-as por hobbie, sou uma colecionadora obrigada a colecionar. Não há meios de jogá-las fora ou dar para o vizinho. Não há meios de ignorá-las, tão pouco. Quando se tenta fazê-lo, recebe-se em troca protestos, gritos, chutes, birras e cutucões no mínimo doídos. O único jeito é aceitá-las. Ao chegar mais uma, deixo de lado as que estão cicatrizadas e me concentro na que está sangrando. Passo pano no chão, lavo o tapete e arrumo a casa para minha mais nova moradora. Preparo uma cama confortável, um travesseiro branco, uma coberta e um pijama com cheiro de lavanda. 
Admito que não posso me queixar de tudo, pois ás vezes, na fria e silenciosa madrugada de inverno, minhas feridas são as únicas que me aquecem e me fazem companhia. O fato é que daqui algum tempo, em algum momento próximo, não darei mais conta. Estou cansada e minhas condições já não são das melhores mas, enquanto esse momento não chega, vou me virando com o que tenho. Com um pouco de carinho e um bocado de bronca, pra tudo dá-se um jeito. Algumas começaram a obedecer. Para as que ainda não obedecem, haja paciência. E haja pano de chão.

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