Abri a mala com cautela e demasiada demora. Não que tenha
sido algo difícil de fazer, visto que estava abarrotada e praticamente se
abrindo sozinha. Aventurei-me a
bisbilhotar seu interior com o canto do olho e sem pressa, como se faz quando
se visita uma casa pela primeira vez. Lembranças transbordavam de seu interior
e me esbofeteavam o rosto, lembranças de um passado que não me pertencia e que
talvez nunca o tenha feito. Sorriam e mostravam a língua como uma criança mal
criada. Meu pai dizia que na vida nós temos muitas vidas, e que, ao partirem,
cada uma delas nos deixa de presente um passado repleto de lembranças. Guardei
minhas vidas naquela mala de madeira gasta e durante muito tempo limitei-me a
fita-la. Naquele dia, após tanto trocar olhar, me afundei no passado, em tempos
onde o sorriso não esfaqueava as bochechas. Meu pai também dizia que o mundo é
dividido entre aqueles que amam e aqueles que fingem não amar. Dizia, com um
sorriso de rugas, que todos possuem amor dentro de si, mesmo que seja um amor coberto
de ódio. Havia amor na mala. Um amor puro e inocente, daqueles que só o verão
proporciona. Na mala havia mãos tremulas e soadas e sorrisos roubados aos
montes. Dela emanavam cheiros diversos, cheiro de grama molhada, sal, pasta de
dentes e madeira. Em cima de tudo, encontrei um velho relógio, eternamente paralisado
ás 15h03min de um dia quente do verão de 1957. Aqueles eram outros tempos, tempos onde tudo era nada e nada era tudo e, principalmente, onde era sempre assim: tudo ou nada. Tempos em que um foda-se resolvia tudo. Tempos de uma ignorância inocente, de um poder sem origem e uma vontade de descobrir o mundo inteiro em um segundo. Tempos onde explicações eram bobagens e onde viver como se fosse o ultimo dia era o que importava. Tempos onde se chorava até secar, sorria até rasgar e gargalhava até sangrar. Não havia meio termos, era um ou outro. Encontrei fotografias e me
choquei ao perceber que mal me lembrava do momento em que foram tiradas. Sorri
ao ver que a velha câmera da minha mãe estava intacta. Passei a vida me
perguntando como um simples objeto consegue congelar um momento pra sempre e
sinto que morrerei ser saber a resposta. Sempre amei fotografias, o mistério e a magia por trás delas me
fascinam. A fotografia é o corpo da lembrança. Quando criança, costumava fita-las por horas,
me perguntando o que aquelas pessoas estavam fazendo antes de serem
fotografadas, e o que fizeram depois. Imaginava-as correndo para se abraçar e
depois piscando devido á luz do flash. Vejo o passado com um tênue receio, com
respeito e certa cumplicidade. Como um estranho á quem se tem a impressão de
ser um velho amigo. Aperto sua mão e dou um sorriso amarelo, considerando a
mais mínima intimidade uma coisa proibida. Quando se envelhece, ele é sua única
companhia. Além da clássica poltrona velha, claro. São recebidas constantemente
visitas de perguntas sempre começadas com “e se” e, se você quiser, pode
considerá-las companhia também. Quando uma coisa chega, outra sempre se vai. Os
anos nos tiram as pessoas (que, ao chegarem, nos tiram outras pessoas), a idade
nos tira a memória e o passado nos tira o sono. Naquela noite, aquela mala
velha, entupida de coisas velhas, se tornou minha melhor amiga. Acariciar
aquela madeira gasta e as bugigangas do seu interior foi o mais perto que eu
cheguei de um abraço. E veja bem, não reclamo. Pois como dizia meu pai, não se
pode ter tudo.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Três vezes quatro
Então, começo este belo post com uma belíssima notícia para compartilhar convosco: sim, neste bela tarde do dia 29 de dezembro comprei minha tão desejada-querida-foda-linda-pra-caralho camiseta da Red Hot Chili Peppers. No caso, eu nem imaginei que eu poderia comprar ela. Minha colega veio me avisar no msn que abriu uma nova loja de camisetas de banda na minha cidade e também me avisou que a minha tão sonhada camiseta estava lá me esperando. Mas porém, também aconteceram outras coisas no meu dia hoje que eu, neste exato momento, queria comentar ou compartilhar com vocês.
70% do twitter, certa época, tuitava algo sobre "EU JÁ SOU FEIO, E AGORA EM FOTO 3X4 SOU PIOR AINDA". Tenho quase certeza que 69% dessas pessoas havia tirado a porra da foto 3x4 quando era criança e tava fazendo birra. Ou seus pais tinham chantageado ela com "OU VOCÊ TIRA A FOTO OU NÃO GANHA O PRESENTE DE DIA DAS CRIANÇAS" - isso já aconteceu comigo quando meu pai me obrigou a tomar vacina sem chorar. Foi tipo: "ou você deixa a mulher enfiar a agulha em você sem derramar uma lágrima, ou não ganha o relógio." No fim das contas, eu berrei tanto que meu pai falou que ia me comprar o relógio se eu parasse de gritar.
Voltando ao assunto, hoje fui obrigado a ir em um estúdio fotográfico pra tirar uma foto 3x4. Na real, foram três. Eu cheguei lá pensando "puta que pariu, eu tenho que sair sério e eu não consigo sair sério porque eu vou ficar pensando em tanta merda que eu vou começar a rir e eu vou ter um ataque de riso." Daí me chamaram pra ir até o espelho pra arrumar o cabelo. Eu só baguncei meu cabelo ainda mais e a mulher olhou pra mim com uma cara de tipo "OW MULEQUERSON, ISSO É O QUE TU CHAMA DE ARRUMAR O CABELO?" e eu pouco me fodendo, fui lá tirar a foto. Como é de costume, aqueles flashs sempre deixam sequelas na visão do ser humano. Não tem como você não sair de um estúdio sem ficar enxergando um quadradinho em tudo quanto é canto.
Chegou a melhor (pior) hora, que era de escolher uma das 3 fotos. Eu disse pra ela que era pra ela escolher a menos pior. Quando ela veio me entregar, eis que acontece um milagre: EU NÃO TAVA COM NENHUMA MANCHA/ESPINHA NA CARA e eu fiquei: CARALHO, COMO FICOU BOA ESSA FOTO. Então, a moral da história era que: TODO MUNDO FICAVA RIDÍCULO NAS FOTOS PORQUE NAQUELA ÉPOCA NÃO TINHAM TECNOLOGIA SUFICIENTE PRA USAR. Agora, qualquer um fica lindo. Até eu.
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Tudo & Nada
Só pra começar: acho que faz uns 4 meses que eu não escrevo nessa merda aqui. E sim, é por falta de vontade e por falta de o que escrever. E eu to escrevendo esse texto agora sem nenhum assunto definido. É tipo, esquisito. Na real, me deu uma puta saudade do tempo que eu vivia em torno do blog. Eu ficava procurando aqueles concursos lá de textos. NUNCA GANHEI, mas não tem problema. Era legal. Eu era feliz só com isso. E agora é meio, sei lá, idiota. Eu não vou querer reler isso que tecnicamente podemos denominar como um texto, porque aí sim eu não iria postar isso. Tá, to escutando Bidê e tava pensando no que eu poderia ter feito esse ano que poderia ter mudado ou sei lá, poderia ter sido legal. Uma coisa que puta que pariu eu nunca vou esquecer na minha vida, aconteceu ano passado.
Na real, acho que foi a melhor coisa que aconteceu entre ano passado e esse ano. Era umas 10 horas da noite, e eu entrei no google porque eu tava entediado e sem caralho nenhum pra fazer. Eu não sei se existe essa ferramenta ainda, mas era algo do tipo "em tempo real", e eu fui lá procurar sobre tudo e nada. Primeiro, eu não lembro o que eu digitei. Depois, eu pensei "Puts, vou ver se tem algo de novo nessa merda dessa cidade". Fui lá e digitei tecnicamente "Erechim". E apareceu um monte de tweets de merda, que só reclamavam da cidade. E um foi do tipo "NÃO TEM NEM ERECHIM NA LOCATION DO TWITTER" e eu fiquei tipo: porra, quem que tuitou isso? Velho, eu tenho que ver. E EIS QUE APARECE A @NAAHNIGHT.
Uma das primeiras pessoas que eu encontrei aqui da minha cidade que era foda, que gostava do que eu gostava, que era sei lá porra perfeita? No outro dia, eu nem acreditava. Eu ficava "PUTS". E não vou ficar narrando como aconteceu tudo, mas agora ela é minha monera linda caralho amo essa guria NÁ ESSA É UMA DECLARAÇÃO PRA VOCÊ BELEZA. E através da Ná, eu conheci a Layse e a Roberta. E caralho, eu fico imaginando se eu não tivesse feito nada disso. Ou se eu não tivesse entediado e não tivesse procurado o nome da minha cidade no GOOGLE. Na real, isso é tipo uma lição de vida (?) que todo mundo tem que levar cara. Tipo, esse ano foi mais feliz porque essas pessoas entraram na minha vida. ISSO NÃO É UMA RETROSPECTIVA, eu acho. Tá, deve ser. Mas foda-se. Eu escrevo o que eu quero. Ninguém vai ler essa merda mesmo.
Claro que, outras muitas coisas mudaram minha vida esse ano. Não vou ficar citando os nomes aqui porque puta que pariu hein, mas beleza. Esse ano foi um dos mais fodásticos na escola e na minha vida. Passei pro ensino médio, e vou ter que trocar de escola. COMO É ÓTIMO TUA ESCOLA NÃO TER ENSINO MÉDIO. Na real, minha antiga escola. É esquisito usar o termo "antiga escola". Eu não me acostumei com a ideia que eu vou ter que entrar em um colégio que eu não conheço quase ninguém, não conheço a porra dos professores nem aonde é o banheiro. Claro que com o passar do tempo eu vou conhecer tudo isso. Mas a "coisa" é que eu conhecia as pessoas lá da escola. Eu sabia como as coisas funcionavam. Eu conhecia como os professores eram e eu podia sair da sala na maioria das vezes quando eu quisesse porque a gente mandava naquela merda. Tá, a gente não mandava. Claro que não. Mas a gente era amigo da vice-diretora e a gente ia lá pra cima e começava a zuar com a cara dela. E ela zuava com a nossa. E o estranho é que: eu não vou ter nada disso na outra escola. Eu não vou poder acordar as 7h15 e esperar meus colegas pra gente ir junto na escola. Eu vou ter que acordar as 6h porra. As 6h; Eu posso estar fazendo um POUCO de drama, mas vai ser tipo, uma vida nova. E não tem mais como fugir então, vambora.
MAS PORÉM, eu fico um pouco animado com essa coisa de "escola nova". E, pra fechar com chave de ouro os 8 anos na antiga escola, fui no Beto Carrero World com meus amigos e cara, FODA é pouco pra resumir o quão fodástica-perfeita-caralho-a-quatro foi. Eu tava tão ansioso pra chegar lá, que eu dormi no máximo uns 10 minutos em uma viagem de quase 10 horas. E eu não sei como explicar a sensação de ir naqueles brinquedos cara. É tanta adrenalina que tu fica besta. E foi com certeza a melhor viagem que eu fiz na minha vida. Quando cês forem pra lá, lembrem de mim e aproveitem pra caralho, sério. Vão até no Raskapuska, porque até esses brinquedos de criança são fodas.
Eu to achando que eu escrevi demais pra quem tava um tanto quanto enferrujado. Então, quero agradecer par todos que fizeram o meu ano muito melhor, e sei lá, to achando que ninguém vai ler esse texto aqui. Mas eu não ligo, porque na real, este texto me fez lembrar de tanta coisa boa que eu vou ficar feliz pro resto do meu dia. (Os palavrões que constam aqui são mera coincidência.)
(soffy te amo)
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Visita da meia-noite.
No momento em que a vi, reconheci sua figura. Era impossível não fazê-lo. Ela era reconhecível até mesmo entre milhares de pessoas. Se destacava do todo como sangue fresco na imensidão da neve branca. Ela também me reconheceu, deu um pequeno sorriso sem dentes e uma piscadela como quem conta um segredo pra um amigo íntimo. Não gostava disso. Não gostava dela e o do que ela causava em mim. Tinha medo, pavor, assombro. E ela sabia disso. Ela sabia de tudo. Sempre chegava como quem não quer nada, mas eu sabia o que ela queria. Ela se alimentava de mim. Como um aspirador de pó de última geração, ela sugava o pouco de luz que eu conseguira juntar no tempo que ficamos separados. Vinha de mansinho, se aproximando aos poucos, caminhando sem fazer barulho como quem corre descalço na grama. Me dava uma palmadinha nas costas e lá íamos nós de novo. Me trazia presentes. Um pacote atrás do outro de lembranças e pensamentos. Não queria aceitar nenhum, mas ela insistia, dizia que não aceitaria não como resposta. Acabava aceitando, todas as vezes. Abria as lembranças, vasculhava, dava meu melhor sorriso amarelo e agradecia. Oferecia um chá, como toda boa anfitriã. Tomávamos o dito cujo enquanto conversávamos sobre minha infância e sobre as lembranças e pensamentos que ela me trouxera desta vez. Tentava parecer normal, fingir que não sentia a felicidade se esvaindo enquanto ela se alimentava cada vez mais de mim. Não a culpada. Era o trabalho dela, a necessidade dela. Que poderia eu fazer, senão ceder? Ás vezes ela me contava como estava sua vida, se fizera as pazes com a Morte ou reatara o namoro com o Ciúmes. Certa vez, descobri que sua fiel melhor amiga Saudade finalmente estava namorando. Ninguém a queria, diziam todos, pois era instável demais. Após o chá, sentávamos no sofá e ela me consolava. Era quase uma amiga. Já havia me acostumado com sua presença e por vezes chegava a ansiar sua volta. Pelo menos alguém voltava. Ela era egoísta, devo admitir, mas quem não era? E pelo menos ela nunca me deixou na mão, sempre estava lá. Era a melhor companheira e jamais me abandonava. Mesmo nas vezes em que acabei por insultá-la e mandá-la embora, continuou presente e ficando comigo até o fim. Quando eu acabava de chorar e finalmente dormia em seus braços, ela ia embora. Não sem antes deixar um bilhete:
"Até mais, querida. Eu voltarei logo, prometo. Com amor e já com saudades,
Dor."
"Até mais, querida. Eu voltarei logo, prometo. Com amor e já com saudades,
Dor."
sábado, 19 de novembro de 2011
Você se lembra?
Você se lembra da primeira vez que nós nos vimos? De como você me olhou e fez careta de "argh"? Naquele momento eu te achei o menino mais porco da face da terra. Não que todos os meninos da face da terra não fossem porcos. Aliás, naquela época todos os meninos da face de todos os planetas, e estrelas, e meteoros, eram porcos. Mas quer saber? Depois daquele chiclete dado com a cara mais tô-te-dando-porque-minha-mãe-mandou, você até que ficou um porco bonitinho. Não que você tenha deixado de ser nojento, mas pelo menos era um nojento não-tão-nojento. Confesso que a ideia de ter um menino como melhor amigo nunca me passou pela cabeça. Aliás, ter um menino como qualquer coisa sem ser primo nunca me passou pela cabeça. Mas a minha cabeça nunca foi das melhores e lá estávamos nós, apostando corrida de subida de árvore. Você se lembra?
Se lembra da vez que nós comemos tanta pipoca que não conseguimos ir no aniversário da Sara? E de quando nós brigamos e ficamos uma semana sem se olhar na cara porque você tinha dado duas chupadas a mais na bala que nós dividimos (sim, foi você, e não me venha dizendo que fui eu porque nós brigaremos de novo)? Você se lembra de quando você roubou o meu diário e eu fiquei com tanta raiva que furei o pneu da sua bicicleta, e lá fomos nós de novo a mais uma semana sem se olhar? E da vez que nós batemos naqueles meninos que ficaram gritando "olha os namoradinhos" pra gente? Namoradinhos! Puf! Bobões!
E ah, lembra de quando nós descobrimos o que era sexo e juramos, de dedinho e tudo, que jamais faríamos algo tão nojento e asqueroso (nós nem sabíamos o que era asqueroso na época, mas falávamos sempre que se encaixava na frase)? Você se lembra do beijo na bochecha que me deu na quinta série e de como tudo, absolutamente tudo, mudou? Se lembra dos bilhetes, dar cartinhas e das flores que pegava no canteiro da dona Marta todos os dias pra me dar? Se lembra de quando nós pegamos dois anéis daqueles que vinham em chiclete e "oficializamos" nosso relacionamento? Você se lembra de quando nós decidimos beijar, só pra ver como era, e de como ficamos olhando um pra cara do outro por vinte minutos? Se lembra de quando nós tentamos fugir e no meio do caminho decidimos voltar, nos demos as mãos e fomos andando tranquilamente até a esquina das nossas casas? E de quando tentou me ensinar a soltar pipa e eu acabei com a linha enroscada no pescoço? Você se lembra de quando eu "virei moça" (argh, não acredito que mamãe usou mesmo essa expressão) e resolvi que te odiava? Você se lembra de quando me pediu em namoro e da cara que meu pai fez? Se lembra de quando nos formamos e estudamos feito condenados, até conseguirmos ir pra mesma faculdade? Se lembra do abraço que demos quando vimos que conseguimos? Se lembra de quando nos casamos? De como você tropeçou quando foi entrar em casa me carregando no colo e eu acabei com a cabeça na porta e um galo enorme? Se lembra da vez que pintamos a casa? De como você acabou conseguindo me pintar inteira? Se lembra de como me chamava de querida, docinho, anjo, diamante e flor, só porque eu odiava? E, por Deus, você se lembra que eu te amo? Você se lembra que me ama?
Que diabo! Diga que se lembra.
Por favor. Diga que se lembra.
Se lembra da vez que nós comemos tanta pipoca que não conseguimos ir no aniversário da Sara? E de quando nós brigamos e ficamos uma semana sem se olhar na cara porque você tinha dado duas chupadas a mais na bala que nós dividimos (sim, foi você, e não me venha dizendo que fui eu porque nós brigaremos de novo)? Você se lembra de quando você roubou o meu diário e eu fiquei com tanta raiva que furei o pneu da sua bicicleta, e lá fomos nós de novo a mais uma semana sem se olhar? E da vez que nós batemos naqueles meninos que ficaram gritando "olha os namoradinhos" pra gente? Namoradinhos! Puf! Bobões!
E ah, lembra de quando nós descobrimos o que era sexo e juramos, de dedinho e tudo, que jamais faríamos algo tão nojento e asqueroso (nós nem sabíamos o que era asqueroso na época, mas falávamos sempre que se encaixava na frase)? Você se lembra do beijo na bochecha que me deu na quinta série e de como tudo, absolutamente tudo, mudou? Se lembra dos bilhetes, dar cartinhas e das flores que pegava no canteiro da dona Marta todos os dias pra me dar? Se lembra de quando nós pegamos dois anéis daqueles que vinham em chiclete e "oficializamos" nosso relacionamento? Você se lembra de quando nós decidimos beijar, só pra ver como era, e de como ficamos olhando um pra cara do outro por vinte minutos? Se lembra de quando nós tentamos fugir e no meio do caminho decidimos voltar, nos demos as mãos e fomos andando tranquilamente até a esquina das nossas casas? E de quando tentou me ensinar a soltar pipa e eu acabei com a linha enroscada no pescoço? Você se lembra de quando eu "virei moça" (argh, não acredito que mamãe usou mesmo essa expressão) e resolvi que te odiava? Você se lembra de quando me pediu em namoro e da cara que meu pai fez? Se lembra de quando nos formamos e estudamos feito condenados, até conseguirmos ir pra mesma faculdade? Se lembra do abraço que demos quando vimos que conseguimos? Se lembra de quando nos casamos? De como você tropeçou quando foi entrar em casa me carregando no colo e eu acabei com a cabeça na porta e um galo enorme? Se lembra da vez que pintamos a casa? De como você acabou conseguindo me pintar inteira? Se lembra de como me chamava de querida, docinho, anjo, diamante e flor, só porque eu odiava? E, por Deus, você se lembra que eu te amo? Você se lembra que me ama?
Que diabo! Diga que se lembra.
Por favor. Diga que se lembra.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Hoje é o seu dia, que dia mais feliz.
Meu conceito de festa de aniversário: comida de graça. Não me interessa se o aniversariante é gordo, magro, rico, pobre, branco, azul, alto, baixo ou um ET. O que realmente me interessa é a resposta do meu “o que vai ter pra comer?” e só. É toda uma vida de “vamos sair?” “ah, sei não...” “vai ter comida” “que horas você passa pra me pegar?”. Quando a festa é sua você gasta dinheiro e trabalha pros outros encherem a pança e saírem reclamando de bucho cheio. “Vestido de fulana tinha um furinho aqui e uma manchinha acolá”, “Olha só como beltrano engordou, que bujão!” e todos esses comentários não-tenho-igual-então-falo-mal. O gordo ta comendo feito o Rabicó no natal e ta reclamando da comida! Por isso fazer festa é furada. Bom mesmo é ir à dos outros.
Festa de criança só seria melhor se não tivesse criança, porque o resto é perfeito. O resto = comida. Você mal chega e já estão te enfiando salgadinho goela abaixo. Ôh trem bão dimais da conta, sô. Dá até pra ignorar os gritos dos piás e os “dá licença tia (T-I-A) enquanto passam empurrando sua cadeira e te fazendo quase meter a fuça no chão.
Festa de adulto é broxante quando servem aquela galinhada sem galinha. Galinhada é aquela história de não-tenho-dinheiro-pra-dar-comida-boa-e-fiz-isso-porque-é-barato. Pô, gente. Que miséria. Cadê a carne assada? Não força a amizade não, vai.
Outra coisa que força a amizade é esse assunto de 15 anos e toda essa coisa de “virar moça”. Nunca entendi. E se eu quiser virar moça com 16? E se eu não quiser virar moça? O que tem de especial no número 15? E se eu preferir 13? Não faz sentido. Me irrita esses aniversários chiquéééééérrimos onde o pessoal chora como se a guria tivesse descoberto a cura da AIDS. Você tá lá, esperando a comida a comida a comida e tem todo um mimimi olha-só-a-fulana-fez-15-anos-como-nós-a-amamos e homenagens e choro e abraços e fungadas. Só uma coisa: EU NÃO ME IMPORTO. EU QUERO COMER. Pior que aniversario de 15 anos é aniversario de 15 anos de pobre. Deixa eu avisar uma coisa pra vocês: VOCÊS SÃO POBRES. Isso aí, vocês não tem dinheiro pra fazer festa chique só porque a filhinha ta fazendo 15 anos. Mas nããããão, negada vai lá e gasta o olho da fuça pra dar “uma noite de princesa” pra guria. Depois não tem dinheiro nem pra pegar o ônibus e ta com dívida até no cu. Dá a impressão de que ao fazer 15 anos a guria vira uma princesa e vai morar na Disney. Mas surpresa: não muda nada. No outro dia ela ta lá esfregando o chão do banheiro, com o short manchado de Quiboa. Mas ta, não vou julgar. Deixa a guria ter seus 15 minutos de fama. Mas tirem o pé da minha janta! Eu fico o dia inteiro sem comer, guardando barriga pra comer até morrer e nego me enrola com homenagem. Homenagear meu estômago ninguém quer, né.
Falando em estômago...
“Ô MANHÊ, VOCÊ NÃO TINHA UMA SOBRINHA DO FILHO DO SEU PRIMO TERCEIRO QUE TÁ DE ANIVERSÁRIO? O QUE TEM PRA COMER LÁ?”
terça-feira, 4 de outubro de 2011
O melhor presente de natal.
Caro papai,
ontem antes de dormir eu fiquei pensando se você existe, onde está e o que está fazendo. A mamãe disse que você morreu, mas eu não acredito muito nisso não, sabe? Porque a vovó morreu e a mamãe lembra dela e chora, sorri, conta histórias. Quando eu falo de você, a mamãe muda o assunto, vira a cara. Eu acho que você tá em algum lugar por aí, perdido. Onde diabos você tá, papai? Será que você não percebe que eu preciso de você? Todos os meus amigos tem pais, eles brincam com eles, ensinam eles a soltar pipa, dão abraço de feliz aniversário, andam de bicicleta. No dia dos pais, semana passada, a professora mandou a gente fazer um desenho do nosso papai. O meu ficou em branco. A Melanie me perguntou porque eu não desenhava, só pra me machucar. Aquela guria é o diabo. Se você tivesse aqui, você entenderia. Nesse natal eu decidi pedir uma coisa diferente, sempre pedi brinquedos, roupas, viagens. Esse ano o papai noel vai ter mais um pouquinho de trabalho. Eu pedi você. Não me entenda mal, a mamãe é realmente ótima. Mas eu queria ter o seu colo, queria que VOCÊ me contasse histórias antes de dormir. Queria que você me ensinasse como eu devo chegar na Sophie e dizer que gosto dela. Sabe como é, coisa de homem. A mamãe não entende. Você não tava aqui pra ver meus primeiros passos, ouvir minha primeira palavra, assistir minha primeira partida de futebol. O que você fez de tão sério? Por que ninguém me conta nada? Tenho milhõõõõõeeees de teorias. Elas vão de ser abduzido por aliens (essa era uma teoria bem válida ano passado, mas já cresci e entendi que aliens não existem) a fugir de casa. Você fugiu, papai? Por que, papai? Eu queria que você estivesse aqui. O Pedro me contou que o pai dele pega ele no colo pra "levar pra cama", coloca ele no guarda roupa e fala "é aqui a sua cama?". Ele disse que é divertido. Por que você não tá aqui pra fazer isso comigo, papai?
Ainda não sei como farei essa carta chegar até você, vou amarrar em um balão e soltar no vento. Quero que você responda. Melhor: quero que você venha me ver. Eu tô realmente ansioso pro natal, o papai noel não vai me decepcionar. Tudo bem que eu vou ter que colocar mais biscoitos no prato, mas não me importo. Vou te esperar, ok? Não importa se demorar. Talvez você esteja muito longe e demore muito pra chegar, mas tudo bem, não se preocupe. Acordarei cedo todos os dias, verificarei a caixa de correio e prometo não ficar triste e perder a esperança. Vou te esperar pelo tempo que você precisar, papai. Só tente ser um pouquinho rápido, ta bem? Espero te conhecer desde os 3 anos e sei que quando o fizer, será o melhor dia do mundo. Quando você vier, eu prometo PROMETO MESMO, de dedinho e tudo, que vou ser o melhor filho do mundo.
Com amor,
Miguel.
PS.: será que dá pra você trazer um Memory Card? Eu não aguento mais perder meus recordes do GTA e a mamãe não quer me dar.
ontem antes de dormir eu fiquei pensando se você existe, onde está e o que está fazendo. A mamãe disse que você morreu, mas eu não acredito muito nisso não, sabe? Porque a vovó morreu e a mamãe lembra dela e chora, sorri, conta histórias. Quando eu falo de você, a mamãe muda o assunto, vira a cara. Eu acho que você tá em algum lugar por aí, perdido. Onde diabos você tá, papai? Será que você não percebe que eu preciso de você? Todos os meus amigos tem pais, eles brincam com eles, ensinam eles a soltar pipa, dão abraço de feliz aniversário, andam de bicicleta. No dia dos pais, semana passada, a professora mandou a gente fazer um desenho do nosso papai. O meu ficou em branco. A Melanie me perguntou porque eu não desenhava, só pra me machucar. Aquela guria é o diabo. Se você tivesse aqui, você entenderia. Nesse natal eu decidi pedir uma coisa diferente, sempre pedi brinquedos, roupas, viagens. Esse ano o papai noel vai ter mais um pouquinho de trabalho. Eu pedi você. Não me entenda mal, a mamãe é realmente ótima. Mas eu queria ter o seu colo, queria que VOCÊ me contasse histórias antes de dormir. Queria que você me ensinasse como eu devo chegar na Sophie e dizer que gosto dela. Sabe como é, coisa de homem. A mamãe não entende. Você não tava aqui pra ver meus primeiros passos, ouvir minha primeira palavra, assistir minha primeira partida de futebol. O que você fez de tão sério? Por que ninguém me conta nada? Tenho milhõõõõõeeees de teorias. Elas vão de ser abduzido por aliens (essa era uma teoria bem válida ano passado, mas já cresci e entendi que aliens não existem) a fugir de casa. Você fugiu, papai? Por que, papai? Eu queria que você estivesse aqui. O Pedro me contou que o pai dele pega ele no colo pra "levar pra cama", coloca ele no guarda roupa e fala "é aqui a sua cama?". Ele disse que é divertido. Por que você não tá aqui pra fazer isso comigo, papai?
Ainda não sei como farei essa carta chegar até você, vou amarrar em um balão e soltar no vento. Quero que você responda. Melhor: quero que você venha me ver. Eu tô realmente ansioso pro natal, o papai noel não vai me decepcionar. Tudo bem que eu vou ter que colocar mais biscoitos no prato, mas não me importo. Vou te esperar, ok? Não importa se demorar. Talvez você esteja muito longe e demore muito pra chegar, mas tudo bem, não se preocupe. Acordarei cedo todos os dias, verificarei a caixa de correio e prometo não ficar triste e perder a esperança. Vou te esperar pelo tempo que você precisar, papai. Só tente ser um pouquinho rápido, ta bem? Espero te conhecer desde os 3 anos e sei que quando o fizer, será o melhor dia do mundo. Quando você vier, eu prometo PROMETO MESMO, de dedinho e tudo, que vou ser o melhor filho do mundo.
Com amor,
Miguel.
PS.: será que dá pra você trazer um Memory Card? Eu não aguento mais perder meus recordes do GTA e a mamãe não quer me dar.
Assinar:
Postagens (Atom)